*Por Malyana Tavares
A Bambuzeria Kilombo Souza tem pouco mais de um ano e já mostra que veio para ficar. Coordenada pelo mestre bambuzeiro Marcos Antônio Martins Abranches Correia, o Marquinho, 54 anos, a oficina produz uma grande variedade de peças: forros, pergolado, cadeiras, namoradeiras, aparadores, estantes, cabideiros, cachepôs, portais, balcões, adegas, espelhos, bandejas, copos. Tudo feito no maior capricho.
O último grande trabalho da bambuzeria foram estruturas para o The Roof, evento de música eletrônica em Nova Lima, no Tulum Garden. O pessoal da oficina montou um painel para a mesa do DJ e um paredão para fotos, além de uma ilha para o bar e um túnel por onde passavam os participantes.
Foi mais de um mês de trabalho, mas valeu a pena, como diz Marquinho, que para exercer a profissão participou da oficina Bambuzeria dos Quilombos com o mestre Lúcio Ventania. No ano passado, a bambuzeria fez uma linda decoração para o Arraiá da Liberdade e teve outras participações com peças criativas em eventos na cidade.
Por meio de uma emenda parlamentar da então vereadora Bella Gonçalves, uma verba foi destinada para a reforma do espaço e a compra do maquinário, conta a presidente da Associação do Kilombo Família Souza, Gláucia Cristine Martins de Araújo. Isso possibilitou a mais moradores do quilombo participarem da confecção das peças. Agora a bambuzeria irá ensinar o ofício em aulas, a partir do segundo semestre.
A confecção de móveis, utilitários e demais estruturas requer uma grande sabedoria “e é importante destacar o tratamento que é feito no bambu para garantir durabilidade e que não seja alvo da broca, espécie de praga que esfarela o material”, destaca a esposa de Marquinho, Sueli Alves Correia, de 54, que também aprendeu o ofício com mestre Ventania.
O bambu é relativamente fácil de ser trabalhado e, como lembra o mestre Marquinhos, “enverga mas não quebra”, como, aliás, é a luta do Kilombo Família Souza, localizado no bairro Santa Tereza, à Rua Teixeira Soares, 999, em Santa Tereza. Foi lá que chegou a família da matriarca Eliza de Souza, em 1910. Hoje, a área é reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial, pela Fundação Palmares e pela Prefeitura de Belo Horizonte. Lá habitam 14 famílias, totalizando 33 pessoas, em uma área de 2,5 mil metros quadrados, segundo Gláucia.
A Bambuzeria aceita encomendas e as peças podem ser feitos sob medida. A expectativa é que a produção aumente cada vez mais. Para o mestre Marquinhos, foi uma virada de chave. Metalúrgico durante vários anos, ele viu aí a oportunidade se reinventar e hoje, além de fazer belas e resistentes peças, ensina o que aprendeu (veja no vídeo).
A página do Instagram da bambuzeria é @Bambuzeriakilombosouza e o Mestre Marcos pode ser encontrado para encomendas no 31 99378-4557.
*Marlyana Tavares é jornalista e colaboradora voluntária do Santa Tereza Tem. Trabalhou por muitos anos no jornal Estado de Minas, em várias editorias e principalmente no Caderno de Turismo, do qual foi editora.